O que significa ser mentalmente saudável?

Eu vivo um equilíbrio entre minhas experiências pessoais com o que alguns chamam de “transtornos mentais” (depressão e ansiedade) e meu trabalho com pessoas que se identificam ou são rotuladas como “mentalmente doentes”. Tenho certa resistência ao termo “transtorno mental”, pois ele carrega um estigma enorme. A maioria das pessoas que busca ajuda para questões de saúde mental não está “doente”, mas sim em desequilíbrio. É claro que transtornos mentais graves existem e causam sofrimento intenso. No entanto, a maioria das pessoas que utiliza antidepressivos ou medicamentos para ansiedade não está “doente”; estão apenas enfrentando dificuldades para encontrar um equilíbrio mental saudável.

Acredito que a saúde mental é um espectro. Não existe um estado ideal onde seremos completamente equilibrados, livres de momentos de tristeza, autocrítica ou comportamentos compulsivos para escapar da realidade. Contudo, há graus de desequilíbrio, desde uma melancolia leve em dias nublados até quadros graves, como a psicose delirante. Em situações mais extremas, a ajuda médica profissional é indispensável. Mas a maioria de nós lida com desafios mais leves: sentimos tristeza que persiste, ansiedade em certas situações, excessos ocasionais (compras, TV, comida, álcool) ou tomamos decisões que refletem questões psicológicas acumuladas ao longo da vida.

Na minha jornada pessoal pela saúde mental, duas práticas têm sido essenciais: a autoconsciência compassiva e a aceitação. Aprendi que, para lidar bem com minha predisposição genética, temperamento e as marcas que a vida me deixou, preciso antes de tudo reconhecer essas características com gentileza. Isso não significa vê-las como falhas, mas como partes de mim, assim como meus olhos ou cabelo. Muitas pessoas detestam aspectos físicos de si mesmas e chegam a recorrer a mudanças drásticas para “corrigi-los”, mas frequentemente descobrem que a insatisfação era mais profunda. No meu caso, entender com compaixão as necessidades psicológicas que me movem me permite explorá-las de forma saudável, ao invés de travar uma batalha interna que só me faria sentir mais frágil. Não acredito que minhas questões psicológicas vão simplesmente desaparecer. O que posso fazer é conhecê-las e aprender a lidar melhor com elas. Minhas ferramentas incluem meditação, mindfulness, exercício físico, tempo na natureza, sono adequado, alimentação balanceada, terapia regular e, ocasionalmente, medicação prescrita para ansiedade.

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A aceitação, por sua vez, não é passividade ou resignação. Não significa me render às dificuldades da minha mente, mas sim entender quem eu sou e parar de lutar contra essa verdade. Somos todos seres únicos, com tendências positivas e negativas. Desejar ser alguém completamente diferente é desrespeitoso com quem somos em essência. Quando aceitamos nossa verdadeira natureza — como seres bons, empáticos e cheios de luz — podemos fazer mudanças que amplifiquem essas qualidades, reduzindo os mecanismos de defesa e hábitos que usamos para escapar do sofrimento. Além disso, aceitar a nós mesmos torna mais fácil aceitar os outros pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem.

Celebre as conquistas que já alcançamos: o amor de amigos e familiares, nossa saúde (independentemente de como esteja no momento) e as vidas que construímos. Como alguém já disse: “Se você ainda está respirando, já está indo bem”. Reconhecer nossas forças, ser gratos pelo que temos e olhar com gentileza para os aspectos que ainda precisam de equilíbrio são passos importantes.

Também olhe ao seu redor com compaixão. Todos estão fazendo o melhor que podem, mesmo que às vezes nos pareçam confusos ou irritantes. Assim como nós, eles também podem fazer ajustes. A vida é desafiadora, mas podemos vivê-la bem, mesmo com questões de saúde mental, cultivando uma atitude de compaixão para conosco e para com os outros.